Cartão Postal de São Vicente, foi a primeira do gênero construída no Brasil e tombada como patrimônio histórico.
A Ponte Pênsil de São Vicente, localizada entre os Morros dos Barbosas e Japuí na cidade de São Vicente (SP), é responsável pela ligação da ilha ao continente e é considerada um marco na construção de pontes pênseis no Brasil: ela foi a terceira da nossa história e um marco do desenvolvimento do litoral paulista. A ponte foi inaugurada em 21 de maio de 1914.
Foto: Revista EDVD
Em Santos, deu início a gigantesco plano de saneamento que incluiu os canais de drenagem e a Ponte Pênsil (inaugurada em 21/5/1914, para dar suporte aos emissários do esgoto de Santos, cujos dejetos eram lançados ao mar na ponta de Itaipu).
Desde os anos 70 a mobilidade é a única função da ponte. Isso porque as tubulações de esgoto (que motivaram sua construção) foram removidas depois da construção do Emissário Submarino, em Santos.
A PONTE PÊNSIL
A importância da Ponte Pênsil para a população do Estado de São Paulo não se resume ao fator de integração da região, mas, principalmente ao de salvar vidas.
Na metade do século XIX, uma série de epidemias assolava o litoral que se tornara um grande foco de malária. São Vicente, alagadiça, cercada de mangues e matagais onde desaguavam as fossas negras de todas as moradias da cidade e também de Santos, passou a espantar até navegadores.
Em 1842 explodem as doenças: Febre amarela, tuberculose, varíola, impaludismo, sarampo, gripe e febre tifoide. As epidemias coincidem com a expansão urbana da ilha de São Vicente. As doenças eram causadas pelas péssimas condições ambientais da ilha e de sua superlotação de nativos e imigrantes.
Para se ter ideia do grau de mortandade provocado pelas epidemias, Santos, na época, ficou conhecida como “porto maldito” e teve que construir um novo cemitério, o da Filosofia. Até 1892, Santos dispunha apenas do cemitério do Paquetá, que se tornou insuficiente diante de tantas mortes. Em meio a tantas perdas humanas e prejuízos comerciais, principalmente relacionados a exportação de café, setores econômicos e políticos começaram a debater a questão chegando ao ponto: Saneamento. Sem ele a região seria devastada.
Após essa discussão, finalmente foi aprovado o plano de saneamento para a ilha de São Vicente, de autoria do engenheiro sanitarista Francisco Saturnino Rodrigues de Brito, chefe da Comissão de Saneamento de Santos. O plano consistiu em dois sistemas: Um de esgoto e outro de galerias pluviais para recolhimento das águas da chuva. Em 1910, Saturnino já havia elaborado a planta de urbanização de Santos que incluía um plano complexo, de esgotos através de estações elevatórias, cujo despejo inicial seria numa estação terminal, onde hoje é o bairro do José Menino.
Havia no entanto a necessidade de se levar o esgoto mais adiante na ilha de São Vicente. Saturnino de Brito optou por levar o esgoto até a ponta do Morro de Itaipú, no atual município de Praia Grande, o que exigia a construção de uma ponte sobre o Mar Pequeno, capaz de suportar pesada tubulação. Diante dessa necessidade surgiu uma das maiores obras de engenharia brasileira, a Ponte Pênsil.
Após minuciosos estudos e aval do presidente de São Paulo, Dr. Francisco de Paula Rodrigues Alves, o material para a construção da ponte foi encomendada à Casa Augusto Klônne Dortoneud, na Alemanha e em 17 de fevereiro de 1911 foi assinado o contrato com a firma Trajano de Medeiros & Cia., do Rio de Janeiro, para execução da obra.
A Ponte Pênsil, inaugurada em 21 de maio de 1914, criou uma nova realidade para o litoral sul até então abandonado, tornando-se também, responsável pela expansão urbanística da região. Tombada pelo Condephaat em 30 de abril de 1982, a Ponte Pênsil, com 180 metros sobre o Mar Pequeno, com torres de 23 metros de altura (8 metros enterrados no mar), sustenta a tubulação de aço (escoamento de esgoto) que salvou a região das epidemias. Cartão postal de São Vicente e do Brasil, marco da economia de uma época, a obra de Saturnino de Brito continua sendo importante meio de comunicação e integração do litoral paulista.
Fonte: Boletim do IHGSV
A festa - 21 de maio de 1914. Manhã de sol. Vinte automóveis vindos da Capital, trazendo elegantes senhoras e senhores de polainas, chapéu-coco, gravatas pretas, descem rumo ao litoral, para participar da festa.
Entre os convidados, lá estavam Washington Luiz, prefeito da capital de São Paulo e futuro presidente da República; o presidente do Estado de São Paulo, Francisco de Paula Rodrigues Alves, e o vice, Carlos Pereira Guimarães; o prefeito de Santos, Joaquim Montenegro; o prefeito de São Vicente, Antão Alves de Moura; o pintor Benedito Calixto; o jornalista Afonso Schmidt; o sanitarista Saturnino de Brito.
Duas bandas aguardavam: a da União Portuguesa, regida por José do Patrocínio; a Colonial Portuguesa, dirigida pelo flautista Burgos.
Ocorreu então o primeiro congestionamento. O número dos que desejavam transpor a ponte era demasiado para sua capacidade. E houve o primeiro acidente: um motociclista da capital bateu na traseira de um coche e caiu, fraturando o crânio.
Inauguração da Ponte Pênsil em São Vicente
O presidente Rodrigues Alves corta a fita inaugural. A multidão avança. A ponte não suporta, balança. Sob o peso, os canos de esgotos se interpenetram. Os populares em pânico procuram logo alcançar terra firme e, segundo relatos antigos, alguns se atiraram ao mar, pensando que a ponte fosse ruir. Suspensa pelos cabos de aço, porém, ela resistiu firme.
No histórico publicado a 20/2/1972, A Tribuna de Santos observava que a ponte pênsil representara um marco para São Vicente: "Antes da ponte, ponto final de uma aventura de fim-de-semana do paulistano; São Vicente, depois da ponte, centro obrigatório de passagem e distribuição de tráfego para todo o Litoral Sul".
Vista da Ponte Pênsil em São Vicente, meados do século XX
Em 1934, um jovem atravessou a ponte a cavalo, e galopando. Aquilo provocou discussões e protestos. E a Repartição de Saneamento de Santos dirigiu-se energicamente às autoridades do trânsito, afirmando que a trepidação provocada pelo galope do animal poderia danificar a obra.
Exagero ou não, o certo é que os cuidados, a manutenção e conservação da ponte em bom estado eram preocupação constante.
E com razão. Dois anos após a inauguração, os técnicos notaram que a Ponte Pênsil estava envelhecida. Ela foi pintada e passou a receber nova pintura a cada dois anos. Em 1932, ela chegou a ser picotada e raspada por inteiro, para receber nova dose de tinta.
Na década de 1960 e início da década de 70, os cuidados se intensificaram. Reforços nas bases, novas pinturas. Chegou-se a pensar em interdição da ponte. A ideia foi descartada, pois traria grandes prejuízos a todo o Litoral Sul, tendo em vista que nem todo o tráfego poderia ser desviado pela Rodovia Pedro Taques.
Quando completou 80 anos, em 1994, a famosa ponte, tombada pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arquitetônico e Artístico Nacional (Condephaat), ganhou um sistema de iluminação que a destaca à noite do cenário vicentino. Em 1999, sofreu nova reforma, preparando-a para continuar suportando o tráfego de veículos no século XXI.
DETALHES HISTÓRICOS
Os primeiros automóveis, o primeiro policial, um operário que trabalhou nas obras da Ponte Pênsil, algumas tragédias ali ocorridas, foram registrados na edição nº 52 (de maio de 1982) do Informativo Cultural, boletim da Associação Centro de Estudos Amazônicos de Praia Grande (Aceam), de Praia Grande/SP:
OS PRIMEIROS AUTOMÓVEIS QUE ATRAVESSARAM A PONTE PÊNSIL
Os primeiros automóveis que atravessaram a Ponte Pênsil, três dias antes de sua inauguração, foram os de nºs. 77, guiado por José Antonio Alves, e 41, conduzido por Antonio Correia Amorim, mediante permissão especial.
O primeiro carro transportava engenheiros alemães e o outro, comerciantes também estrangeiros, todos se dirigindo para Itanhaém. Fizeram a viagem em 40 minutos. Na ocasião, a obra foi muito elogiada pelos técnicos alemães que a transpuseram por antecipação, isto é, no dia 18 de maio de 1914.
O LADO TRÁGICO DESSA GRANDE OBRA
Como todas as obras de vulto e famosas, que deixaram atrás de si uma triste história no que diz respeito a tragédias, a Ponte Pênsil não foi uma exceção. Serviu também de cenário aos acontecimentos funestos e inesquecíveis.Tudo começou em dezembro de 1913, durante a sua construção. Quando os operários estavam esticando os cabos de aço numa barcaça, um deles caiu e foi ao fundo, desaparecendo. No dia seguinte só encontraram metade do corpo, em frente ao Porto do Campo. Falava-se, então, que a outra metade havia sido devorada por um mero, ou por uma tintureira, mas provavelmente por esta, visto ser uma espécie de tubarão.No dia da sua inauguração, 21/5/1914, numa quinta-feira, uma nota triste veio empanar o brilho da festa. Carlos Victorino, um dos grandes jornalistas do passado, no seu Exórdio 1905-1915, pgs. 70-71, assim relata o acontecimento:"Deixando a inauguração do pavilhão para tuberculosos, vamos assistir a outra inauguração - a da Ponte Pênsil em São Vicente. As grandes obras de artes nas quais descobre-se a vasta inteligência dos que as constroem, são para mim objeto de alta estima. E, neste firme propósito, abalei-me até a vizinha cidade de São Vicente, embarcando num auto em companhia de Antonio Santos Amorim (Jota Calunga) e Décio de Andrade. Lá chegados, dirigimo-nos à Avenida Bartolomeu de Gusmão, que dá entrada para a colossal ponte.São Vicente nesse dia era toda festas: o mais humilde pescador lá estava também, boquiaberto, diante da monumental obra, vendo pessoal que nunca viu, embasbacado, ao contemplar aquele movimento fidalgo, com todas as praxes de ato oficial.Antes, porém, da formalidade da abertura da ponte, que foi feita com uma tesoura cortando um cabo, um reboliço qualquer fazia-se em uma curva da Avenida Bartolomeu. Já se vê: o povo afluiu em massa para aquele ponto.A causa desse movimento era nada mais do que um desastre que vinha colorindo a festa com rubras gotas de sangue! Um automóvel chocou-se com uma motocicleta montada por Sylvio Lambertti, que viera de São Paulo expressamente para assistir a inauguração.Não quis ver mais nada. Voltei a Santos imediatamente, ficando lá o Amorim no seu encargo de reportagem. O inditoso Lambertti foi nesse mesmo dia para São Paulo, com o triste destino de falecer junto à sua família, em conseqüência dos graves ferimentos que recebeu por ocasião do desastre".A foto do desastre, publicada à página 71 do seu Exórdio, tem a seguinte legenda: "A motocicle de Lambertti sob as rodas do automóvel".Mas, as tragédias não terminam aí. Depois vieram os suicídios. Sempre havia um na semana. Nove, dez horas da noite, eles se jogavam. E a causa era sempre a mesma: problemas sociais, financeiros e casos de amor impossível. De manhã, os cadáveres apareciam na praia, empurrados pelos botos. Há uns trinta anos atrás, os operários que trabalhavam na manutenção da ponte até apostavam se o próximo que iria se jogar lá de cima seria homem ou mulher.Antes dos guardas rodoviários policiarem a ponte, muitas pessoas que moravam em Santos e mesmo de outras localidades iam lá para se matar. Ainda hoje, de vez em quando, alguém consegue se jogar.Temos lembrança do último: João Jarusevius, um operário de 58 anos, que no dia 6 de março de 1966 amarrou uma grande pedra no corpo e pulou da ponte. A correnteza arrastou o cadáver por mais de um quilômetro.Mas, seja como for, a Ponte Pênsil não é culpada por essas tragédias. Antonio da Silva, que cuidou da ponte desde 1939, achava aquilo uma beleza:"Pode ser que construam outra bem maior, está certo, vai mudar muito e aliviar esta aqui. Mas, mais bonita não é possível", dizia ele.
CURIOSIDADES
A importância da Ponte Pênsil para a população do Estado de São Paulo não se resume ao importante fator de integração da região mas, principalmente ao de salvar vidas. Na metade do século XIX, uma série de epidemias assolava o litoral que se tornara um grande foco da malária. São Vicente, alagadiça, cercada de mangues e matagais onde desaguavam as fossas negras de todas as moradias da cidade e também de Santos, passou a espantar até navegadores. Em 1842 explodem as doenças: febre amarela, tuberculose, varíola, impaludismo, sarampo, gripe e febre tifoide. As epidemias, como comenta a historiadora Wilma Terezinha Fernandes de Andrade, coincidem com a expansão urbana da ilha de São Vicente. As doenças eram causadas pelas péssimas condições ambientais da ilha e de sua superlotação de nativos e imigrantes. Para se ter uma ideia do grau de mortandade provocado pelas epidemias, Santos na época ficou conhecida como “porto maldito” e teve que construir um novo cemitério, o da Filosofia. Até 1892, Santos dispunha apenas do cemitério do Paquetá que se tornou insuficiente diante de tantas mortes. Em meio a tantas perdas humanas e prejuízos comerciais, principalmente relacionados a exportação de café, setores econômicos e políticos começaram a debater a questão chegando ao ponto: saneamento. Sem ele a região seria devastada. Após anos de discussão, finalmente foi aprovado o plano de saneamento para a ilha de São Vicente, de autoria do engenheiro sanitarista Francisco Saturnino Rodrigues de Brito, chefe da Comissão de Saneamento de Santos. O plano consiste em dois sistemas: um de esgoto e outro de galerias pluviais para recolhimento da águas da chuva. Em 1910, Saturnino já havia elaborado a planta de urbanização de Santos que incluía um plano completo de esgotos através de estações elevatórias cujo despejo inicial seria numa estação terminal onde hoje é o bairro do José Menino. Havia no entanto, necessidade de levar o esgoto mais adiante na ilha de São Vicente. Saturnino de Brito optou por levar o esgoto até a ponta do Morro de Itaipu, no atual município de Praia Grande, o que exigia a construção de uma ponte sobre o Mar Pequeno, capaz de suportar pesada tubulação. Diante dessa necessidade surgiu uma das maiores obras da engenharia brasileira, a Ponte Pênsil. Após minuciosos estudos e aval do presidente de São Paulo, Dr. Francisco de Paula Rodrigues Alves, o material para a construção da ponte foi encomendado à Casa August Klõnne Dortoneud na Alemanha e em 17 de fevereiro de 1911, foi assinado contrato com a firma Trajano de Medeiros & Cia, do Rio de Janeiro, para a execução da obra. A Ponte Pênsil inaugurada em 21 de maio de 1914 criou uma nova realidade para o Litoral Sul até então abandonado, tornando-se também responsável pela expansão urbanística da região. Tombada pelo Condephaat em 30 de abril de 1982, a Ponte Pênsil com 180 metros sobre o Mar Pequeno, com torres de 23 metros de altura (8 metros enterrados no mar), sustenta a tubulação de aço (escoamento de esgoto) que salvou a região de epidemias. Cartão postal de São Vicente e do Brasil, marco da economia de uma época, a obra de Saturnino de Brito continua sendo importante meio de comunicação e integração do litoral paulista.
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